quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O sexo na velhice vai depender do que foi construído ao longo da vida

Foto: Cristina Werner / Crédito: Mariza Tavares

Todos sabemos como o sexo está relacionado a muitos aspectos da saúde e do bem-estar do ser humano, mas, em pleno século 21, continua a ser um tabu na velhice. “Ainda convivemos com a mentalidade que recrimina idosos interessados em sexo, chamando-os de ‘assanhados’. É um direito negado pela sociedade e até pela família”, diz a psicóloga, sexóloga e professora Cristina Werner. Ela é também presidente do Instituto de Pesquisas Heloisa Marinho e vice-presidente da Associação Brasileira de Tratamento das Ofensas Sexuais. Entre 2008 e 2010, foi presidente da Associação de Terapia de Casal e Família do Estado do Rio de Janeiro.


A doutora Cristina é enfática ao apontar a importância de uma vida sexual saudável depois dos 60 anos e garante: “todos somos sensuais, é uma questão de atitude, de postura. A parceria afetivo-sexual é um poderoso remédio contra o isolamento e a solidão, mas quando me perguntam qual é receita para transar bem aos 60, eu respondo que vai depender de como se transou aos 50, aos 40... A sexualidade prazerosa é uma construção diária e, na velhice, vai depender do que foi construído ao longo de toda a vida. Uma das coisas que mais afetam negativamente a sexualidade é o cansaço e o sono, junto com a ansiedade pela sobrevivência no dia a dia acelerado que vivemos atualmente. Só que as necessidades sexuais são prementes, temos que arranjar tempo para isso. Se formos esperar o momento perfeito para fazer sexo, vai ficar ainda mais difícil. Sugiro agir de uma forma lúdica, sem expectativas tão altas, apenas porque surgiu a oportunidade. Há boas chances de a pessoa se surpreender e se divertir”, ela aconselha.

A psicóloga lembra que, com filhos criados e sem o perigo de engravidar, é possível viver uma sexualidade mais liberada e até com novos prazeres: “a sexualidade vai além da cópula, não é apenas a introdução de um pênis. E não se pode esquecer que a pele é o maior órgão do corpo, capaz de nos dar enorme prazer”. Reconhece o que chama de “aumento da invisibilidade” da mulher mais velha, mas diz que nada impede que ela se satisfaça sexualmente: “acontece também que muitas mulheres, quando entram no período do climatério e depois chegam à menopausa, decidem pendurar as chuteiras principalmente porque sua vida sexual foi ruim. No entanto, este pode ser um período libertador”.

Entre os fatores que diminuem a atividade sexual, ela cita a falta de interesse do companheiro ou companheira; o estado de saúde em geral; a disfunção erétil no homem; a dispareunia (dor na penetração) da mulher; efeitos colaterais de medicamentos; e a perda de privacidade – cada vez mais comum em famílias nas quais diversas gerações voltaram a conviver com o agravamento da crise econômica. Os homens enfrentam uma ereção mais flácida, demoram mais tempo para alcançar o orgasmo e a ejaculação se retarda e é menos intensa. Para as mulheres, além de o processo que garante a vascularização e a lubrificação do canal vaginal demorar de cinco a dez minutos (enquanto os homens levam de um a cinco minutos para estarem prontos para o ato), a vagina torna-se menos elástica e sua mucosa mais fina (leia também sobre atrofia e secura vaginal). Daí a importância de caprichar nas preliminares e utilizar algum tipo de gel lubrificante à base de água.

Ainda há muito a fazer, afirma a sexóloga, a começar pela educação de meninos e meninas focada na igualdade de gênero: “educar para a estética da alma, e não do corpo”, resume. Entretanto, avalia que a sociedade já deu passos importantes, como a adoção por casais homoafetivos, um direito negado a gerações passadas: “a prole pode ser uma rede de apoio da maior relevância, imaginem quantos homossexuais mais velhos ficaram inclusive apartados de suas famílias e não puderam construir essa rede de afeto?”.

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