No Brasil, hipersexualidade ainda é tabu
A falta de conhecimento e o preconceito fazem com que as pessoas que têm compulsão por sexo não procurem ajuda.
Uma pergunta tem causado alvoroço na comunidade científica dos Estados Unidos. Compulsão sexual é doença? Por enquanto, não. Os autores do Código Americano de Saúde Mental, o mais prestigiado do mundo, dizem que ainda não há estudos suficientemente conclusivos sobre o que eles chamam de hipersexualidade. Mesmo por lá, o tema é relativamente novo. Começou a ser investigado há cerca de 30 anos. No Brasil, o assunto é quase um tabu. Pouquíssimas pesquisas foram publicadas. A maior delas, de 2013, aborda somente a cidade de São Paulo. A falta de conhecimento e o preconceito da sociedade fazem com que as pessoas não procurem ajuda. Para muitas delas, a busca incessante pelo prazer do sexo termina em dor, sofrimento e isolamento social.
MAIS DE 500 GAROTAS DE PROGRAMA
O bolso não aguentou a compulsão, e Fabiano* teve de pedir dinheiro emprestado. Ele já se relacionou com mais de 500 garotas de programa.
“Já tinha até todo um ritual. Ia direto pra lá, subia as escadas escolhendo qual garota de programa que eu queria e depois voltava para a minha casa. No dia seguinte, começava tudo outra vez. Teve um dia que eu saí com seis garotas de programa, de manhã, à tarde, à noite, e fui para a casa ainda insatisfeito... Eu não tinha mais nem comida em casa, mas a compulsão era mais forte. E se eu morresse tanto fazia”.
SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS
Já Mario* buscava a solução para os problemas no banheiro.
“Não era uma masturbação para eu me sentir bem. Passou a ser algo do qual eu fiquei escravo. Eu tinha trancado a minha faculdade porque eu não estava mais conseguindo me concentrar, por focar em algumas práticas sexuais ou pensar. É uma sensação de desespero enorme. A vontade era de não existir”.
EXPOSIÇÃO AO PERIGO
Depressão, mudanças de humor, ansiedade e tendência ao suicídio acompanham as pessoas com compulsão sexual. Caso típico de Natália*, que se autodefine como altamente dependente de sexo. Todos os dias ela precisa fazer sexo. Se não fizer, precisa se masturbar, até no banheiro do trabalho. Certa vez, Natália* conheceu um rapaz na rua e os dois transaram sem caminha. “Só depois eu parei para pensar”, conta ela.
CONSTRANGIMENTO
Doenças sexualmente transmissíveis não são o único problema. Constrangimentos e situações adversas estão acompanhados da compulsão sexual. Pedro*, por exemplo, não consegue parar de assistir pornografia. Um dia, o autocontrole falhou e ele se masturbou em uma lan house cheia de crianças. “Eu saí correndo, todo molhado. Foi horrível”.
Informações sobre onde procurar ajuda:
- Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos Associados ao Comportamento Sexual (AISEP) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Endereço: Rua Dr. Ovidio Pires de Campos, 785 - Cerqueira Cesar – SP – 05403-010 Site: www.compulsaosexual.com.br
- Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes(Proad), ligado ao Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Endereço: Rua Borges Lagoa, nº 570 – Vila Clementino, São Paulo – CEP:04038-020
- Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA). Site: http://www.slaa.org.br/br/
Caso você esteja fora da cidade de São Paulo, a orientação é procurar um centro público de saúde mental ou clínicas psiquiátricas.
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