Uma recente pesquisa norte-americana, a National Poll on Healthy Aging, entrevistou 1.002 pessoas entre 65 e 80 anos de idade, das quais, quase metade declarou-se sexualmente ativa, principalmente as entre os 65 e 70 anos. Um grande interesse por uma vida sexual ativa foi mais frequente entre homens e em quem declarou ter um estado geral bom ou muito bom.
Dentre os entrevistados, 62% disseram que se estivessem com problemas de saúde sexual conversariam com seu médico a esse respeito. Dentre as pessoas que conversaram com o médico sobre sua saúde sexual, 88% afirmaram sentirem-se à vontade para ter essa conversa, porém, apenas 17% o fizeram nos últimos dois anos.
Outro estudo recente mostrou que muitos homens e mulheres com demência que vivem em suas casas são sexualmente ativos e, embora a disfunção sexual fosse frequente, raramente conversavam sobre sexo com algum médico.
Essas pesquisas, assim como outras mais antigas, quebram estereótipos sobre a vida sexual dos idosos e destacam a necessidade de mais pessoas conversarem com seus médicos sobre questões sexuais.
Para facilitar esse diálogo e a condução da questão, serão abordados alguns aspectos práticos importantes a seguir.
Causas de disfunção sexual no idoso
O envelhecimento promove alterações anatômicas, fisiológicas (hormonais, principalmente) e psicológicas que influenciam a sexualidade no final da vida. As alterações que acompanham a função sexual incluem diminuição da libido, da capacidade de resposta sexual, do nível de conforto e da frequência da atividade sexual.
Por outro lado, as disfunções sexuais dos idosos são influenciadas por fatores que abrangem efeitos físicos de doenças, medicamentos, transtornos psiquiátricos e estresse psicossocial, relacionado com a perda de pessoas próximas ou com internações por doenças agudas.
Um evento cardíaco ou vascular cerebral pode suscitar temores quanto ao desempenho ou até mesmo de morte durante o ato sexual. Vale ressaltar que dados têm indicado que a probabilidade de morte súbita após o sexo é baixa.
Principais distúrbios sexuais nos idosos
Os distúrbios sexuais nos homens idosos são a disfunção erétil e a ejaculação retardada, enquanto nas mulheres idosas destacam-se pouco interesse sexual, distúrbio orgástico e dor gênito-pélvica.
Os principais preditores de interesse e atividade sexuais no final da vida são: nível anterior de atividade sexual, saúde física e psicológica, bem como disponibilidade, nível de interesse e integridade do(a) parceiro(a). Para os homens, o fator principal para a atividade sexual parece ser a saúde física e para as mulheres, parece ser a qualidade da relação.
Residentes em ambientes de longa permanência são significativamente menos propensos a serem sexualmente ativos, pois enfrentam barreiras como, por exemplo, dificuldade de encontrar parceiros, falta de privacidade e, evidentemente, problemas de saúde física e mental.
Como avaliar o estado sexual e conduta a adotar nas disfunções
O exame do estado sexual indaga sobre o funcionamento sexual atual, experiências sexuais anteriores e atitudes em relação à sexualidade.
A avaliação e o tratamento da disfunção sexual exigem uma relação de confiança entre o médico e o paciente. A atitude e a linguagem do médico devem ser adequadas e transmitir segurança.
A avaliação clínica deve ser completa e contemplar estado mental e psicológico, como estresse conjugal e luto, por exemplo; função urológica e/ou ginecológica e a realização de análises laboratoriais, especialmente do perfil metabólico e hormonal, como testosterona, tireoide e prolactina.
Ponto importante é o conhecimento detalhado dos medicamentos em uso, pois vários podem provocar disfunção sexual.
Destacam-se os anti-hipertensivos, principalmente os betabloqueadores e os diuréticos, os antiandrogênicos, usados no controle dos tumores da próstata, e vários psicotrópicos, particularmente os antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina, a venlafaxina e a mirtazapina – especialmente nos homens.
Vale ressaltar que a disfunção sexual pode ser causada tanto pelo antidepressivo quanto pela depressão que recomenda o uso do medicamento.
Papel da educação e indicação de encaminhamentos
Na condução dos casos de disfunção sexual em idosos, a educação tem um papel importante. Os pacientes devem ser informados sobre fatores e causas e possíveis tratamentos das disfunções. A educação sobre doenças sexualmente transmissíveis e práticas sexuais seguras não deve ser negligenciada.
O encaminhamento dos pacientes para especialistas, como urologistas, ginecologistas, psiquiatras ou terapeutas, pode ser útil conforme o problema identificado.
As instituições de longa permanência devem treinar suas equipes para respeitar a privacidade dos residentes e avaliar a capacidade deles de evitar possíveis riscos associados à relação sexual.
Pacientes que sofrem eventos ou intervenções cardio ou cerebrovasculares devem receber aconselhamento dos médicos ou dos programas de reabilitação sobre como retomar a atividade sexual habitual gradualmente.
A abordagem básica psicoterápica é semelhante à dos indivíduos mais jovens, embora deva levar em conta relacionamentos ruins de longa data, assim como deficiências da saúde geral e cognitiva.
Tratamento
Os tratamentos específicos dos distúrbios sexuais não são diferentes dos empregados para os adultos jovens, porém algumas recomendações especificas para os idosos devem ser lembradas. Entre elas, a adoção de medidas que minimizem dor ou desconforto, como o uso de analgésicos, oxigênio, inalações, lubrificantes e posições confortáveis para o ato sexual.
Evidentemente, medicamentos que podem causar disfunções sexuais (citados acima) devem ser substituídos, se possível. Distúrbios metabólicos e hormonais devem ser investigados e corrigidos.
A reposição de testosterona para tratar o declínio da concentração sérica de testosterona, que ocorre com o avanço da idade nos homens na ausência de doença hipofisária, hipotalâmica ou testicular identificável, é questionada.
Para os homens que apresentam sinais ou sintomas que poderiam ser causados por deficiência de testosterona, como as alterações da energia, do humor e da libido, pode ser considerada a reposição, mas somente se a concentração estiver inequivocamente baixa em três dosagens de amostras coletadas em momentos diferentes, entre 8 e 10 horas da manhã. Para a reposição, deve ser dada atenção especial para riscos de eventos coronarianos, câncer de próstata e de mama, apneia do sono e eritrocitose.
O uso da testosterona para aumentar a libido nas mulheres carece de evidências robustas e pode oferecer riscos.
Os inibidores da fosfodiesterase 5 (PDE, do inglês PhosphoDiEsterase), utilizados no tratamento da disfunção erétil são eficazes para os homens mais velhos, embora com menor resposta. Para alguns homens mais velhos sem resposta ideal para o uso sob demanda, a administração diária de baixas doses pode ser mais eficaz.
Os efeitos colaterais observados nos idosos são dor de cabeça, rubor da pele, tontura, desconforto gastrointestinal, dor nas costas e visão turva.
Devem ser indicados com precaução para os homens com formato peniano anormal, história de hipotensão ortostática, doença renal ou hepática grave, uso de certos antivirais e antifúngicos e doenças que aumentam o risco de priapismo, como mieloma múltiplo e leucemia.
Quaisquer alterações da acuidade visual ao tomar um inibidor da fosfodiesterase 5 exigem avaliação imediata, devido a relatos de casos de neuropatia óptica isquêmica anterior não-arterítica, caracterizada pelo rápido início da perda visual
A disfunção erétil acontece em pacientes coronarianos com frequência e, inclusive, é considerada como preditor de doença arterial coronária. O paciente coronariano costuma desistir da atividade sexual, mas pode reiniciá-la ao usar inibidores da fosfodiesterase 5.
Porém, devem ser orientados a evitar o uso desses medicamentos concomitantemente aos nitratos, pois podem sofrer hipotensão grave, piorando a isquemia miocárdica, que pode chegar a desencadear um evento grave.
Conclusão
Os médicos e profissionais da saúde devem aprofundar o seu conhecimento sobre a vida sexual dos idosos. É necessário saber abordar o tema de forma adequada, sem omissão, a fim de possibilitar a realização de possíveis diagnósticos, a identificação dos fatores causadores e a orientação correta.
Fonte: Medscape