Um hábito, que tem se tornado comum entre os homens jovens, tem preocupado a comunidade médica: eles têm recorrido aos medicamentos para tratar disfunção erétil, popularmente conhecida como impotência sexual, simplesmente para manter diversas ereções penianas, num curto espaço de tempo, com o intuito de prolongar o prazer sexual. “Muitos não têm um componente que leve à falta de ereção, como diabetes, alterações hormonais e doenças cardiovasculares, que são problemas que podem estar relacionados à disfunção erétil”, diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP).
Em entrevista ao Casa Saudável, ela comenta sobre esse hábito dos adultos jovens, retratado por uma pesquisa inédita sobre saúde sexual masculina, realizada pela empresa Gfk e desenvolvida pela Medley Genéricos. O levantamento ouviu 800 homens brasileiros, de 22 a 65 anos, de seis capitais brasileiras: Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. Na faixa etária dos adultos jovens, de 22 a 40 anos, o estudo revela que 40% deles usam medicamento para disfunção erétil para prolongar o prazer (confira no infográfico abaixo outros números da pesquisa).
“Eles ficam inseguros e usam a medicação para garantir que terão ereções sem falhas, com a certeza de que alcançarão o máximo de aproveitamento numa relação sexual”, informa Carmita. Ela frisa que a pesquisa retrata exatamente o que acontece dentro dos consultórios. E explica que os inibidores da fosfodiesterase-5 (PDE-5), como são chamados os medicamentos para tratar a disfunção erétil, podem levar os homens que os usam a ter mais de uma ereção. E o intervalo entre elas tende a ser curto.
“Tudo leva a crer que eles, mesmo sem disfunção erétil, querem fazer o tempo valer, sem a necessidade de relaxar e descansar, entre ereções e ejaculações, para retomar todo o processo. Se a gente olha a situação por esse ângulo, podemos pensar num uso recreativo e abusivo dessas medicações”, acredita Carmita. De qualquer forma, a psiquiatra considera que o fato de o homem recorrer a esses fármacos pode levantar a seguinte questão: “Se ele usa é porque está inseguro e pouco à vontade durante o sexo. Será que faltam confiança e autoestima nas relações sexuais?”, indaga.
Sob esse prisma, a médica vê uma linha tênue entre o possível uso recreativo dessas medicações e a utilização por questões que realmente podem interferir em problemas de ereção. Mesmo assim, diante de toda essa história, vem um alerta: quem toma o produto dessa forma, sem ter disfunção erétil, pode passar a desenvolver uma dependência psicológica.
“Do ponto de vista físico, as medicações para disfunção erétil agem de forma segura no corpo, mas claro que preocupa o fato de os jovens que estão iniciando a vida sexual usarem os inibidores da fosfodiesterase-5. Eles não esperam a falha de ereção acontecer porque não querem que ela aconteça. Mas é importante que eles saibam que falhar, nesse início, é mais do que natural. Em qualquer processo de aprendizado, a gente aprende com falhas e acertos para que possamos nos tornar competentes”, explica a especialista.
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Foto: Priscilla Burh/Acervo JC Imagem |
Dependência psicológica
O urologista pernambucano Misael Wanderley Júnior apresenta um dado interessante: “cerca de 90% dos homens com até 40 anos que se queixam de algum grau de disfunção sexual apresentam algum problema de caráter psicogênico que interfere na ereção”. Ou seja, fatores psicológicos também são elencados como a causa de problemas de ereção peniana.
Ele acredita que muitos homens jovens realmente tomam os inibidores da fosfodiesterase-5 sem necessitariamente precisar dessas medicações. Usam se ter disfunção erétil. E sabe por quê? “Eles se entusiasmam com o resultado, ficam turbinados e, assim, podem ter maior número de relações num menor período de tempo. A longo prazo, essas atitudes podem levar a uma dependência psíquica, o que é facilitada pelo distúrbio psicogênico presente numa parcela dos pacientes”, reforça Misael Wanderley Júnior. O médico vê esse comportamento como desnecessário e irresponsável.
A sete chaves
Outro dado apresentado pela pesquisa que merece destaque está relacionado ao segredo que os homens mantêm quando fazem uso das medicações para disfunção erétil. Metade do universo masculino, de 22 a 65 anos, não diz à parceira que faz uso de um medicamento para ter uma ereção satisfatória.
“Desde 1998, quando foi introduzida no mercado a sildenafila, primeiro inibidor da fosfodiesterase-5 utilizado no tratamento da disfunção erétil, observamos que nem toda mulher se sente à vontade quando o companheiro usa a medicação. Elas acreditam que os homens fazem uso do produto porque não têm mais interesse sexual nelas. E não é assim que acontece”, diz Carmita Abdo.
Ela explica que os inibidores da fosfodiesterase-5 não interferem na fisiologia do apetite sexual. Ou seja, se o homem não tem desejo em ter relações, o medicamento não funciona. “São medicações que atuam numa segunda etapa, a da ereção. Os homens que tomam esses fármacos precisam estar atraídos pela parceira para ter ereção”, salienta Carmita.
O fato de os pacientes não contarem às companheiras que utilizam medicações é, segundo Misael Wanderley Júnior, proporcional à idade: quanto mais jovem, mais omissão. “Isso aponta para falta de maturidade, insegurança e, evidentemente, medo de perder. Esses homens encaram a situação da seguinte forma: a possibilidade de ter que utilizar medicamento para promover o desempenho sexual atesta uma incapacidade natural”, diz Misael.
Em relação aos homens mais idosos que não abrem o jogo para as mulheres, o urologista acredita que a omissão parte do seguinte fato: “Eles preferem esconder porque as parceiras têm medo de possíveis contraindicações do medicamento, mas omitem especialmente pelo receio que as mulheres têm de os companheiros se revigorarem sexualmente e buscarem sexo fora do casamento”, afirma Misael.
Verdade seja dita, os medicamentos para tratar disfunção erétil são seguros quando bem prescritos pelos médicos. Apesar de ser encontrados em qualquer farmácia da esquina, não são uma bala qualquer. Devem ser tomados depois da análise criteriosa do médico, que indica a medicação adequada de acordo com o perfil de cada paciente. Afinal, o importante mesmo é correr atrás de uma vida sexual mais ativa – e sempre com saúde.