quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Namoro e Sexo na Terceira Idade

Idosos conseguem ter uma vida sexual ativa? Por que existe o estereótipo de que essas pessoas possam estar possivelmente “velhas” para suas vivências sexuais?

Pessoas idosas, que estejam com a saúde em dia, são capazes de aproveitar a sexualidade de maneira plena. Não se perde o interesse sexual com o passar da idade. Ou seja, ela não “some” quando o indivíduo entra na 3a idade. O que acontece é que a quantidade muda em detrimento de uma melhor qualidade das relações. Devemos lembrar que sexualidade não se resume à penetração. É o toque, a carícia... o sexo ganha novos significados. Mas o próprio idoso, muitas das vezes, é o primeiro a acreditar que a sua sexualidade está com os dias contados. As mudanças fisiológicas normais podem assustá-lo, fazendo com que ocorra uma dificuldade de adaptação e esse medo acaba por levar a um distanciamento da prática social como forma de defesa.

Viúvos ou idosos que sejam separados são vistos com certo tipo de preconceito, tanto pela família, como pela população quando afirmam que possuem namorados?
Sim. E ainda podemos incluir aqui a família que tem medo (por vezes fundado) de que a pessoa que está se relacionando com o viúvo ou o idoso é um aproveitador, só pensa no dinheiro ou na vida que estaria usufruindo ao seu lado. Ainda que estejamos em transformação, a sexualidade é um assunto que contém seus conservadorismos. Temos dificuldade em acreditar na sexualidade dos nossos pais ou avós. Assim, o fato de uma pessoa de mais idade querer se relacionar é visto como libertinagem. Mas é preciso ressaltar que em qualquer fase da vida é possível termos uma vivência sexual satisfatória e prazerosa.

Se o idoso sofre de alguma doença, como, por exemplo, doenças cardíacas, hérnia de disco ou diabetes, é necessário tomar algum tipo de cuidado?
Sim, claro. Um médico de confiança poderá indicar os melhores cuidados a serem tomados. Diabetes, por exemplo, é uma doença que pode abrir um quadro de disfunção erétil. É preciso conversar com o médico e afastar possíveis fantasmas.

O fato da estimativa de vida ter aumentado pode estar mudando a visão das pessoas para esse tema?
Estamos em processo de mudança. Mas acredito que ainda podemos melhorar.

A vida sexual pode sofrer reflexos por conta da idade? A menopausa e problemas de potencialidade masculina também podem interferir?
Há uma mudança na atividade sexual nessa fase da vida. O corpo dos homens e das mulheres se transforma. A menopausa modifica não só a pele, como a mucosa genital e as mamas. A lubrificação vaginal é mais lenta e a vagina pode se tornar mais estreita e curta, ainda que com tamanho suficiente para a penetração. Além disso, o revestimento vaginal torna-se fino e facilmente irritável, o que pode acarretar em rachaduras ou mesmo sangramento, levando à dor, que, por sua vez, pode provocar uma ansiedade antecipatória, aumentando o aparecimento dessa dor pelo medo do desconforto e consequente não relaxamento.

Com os homens ocorre uma diminuição de espermatozoide e de testosterona e um aumento da prolactina, hormônio responsável pela redução do desejo sexual. A ereção, por sua vez, torna-se mais lenta e menos rígida, com menor urgência em ejacular e um maior controle da mesma.

Ocorrem casos de disfunção sexual na terceira idade?
Casos de disfunção sexual acontecem em todas as idades.

Quais dicas básicas você poderia dar para o sexo na terceira idade ser apreciado?
A vivência da sexualidade nessa época da vida é nada mais do que a continuação de um processo que começou lá na infância. Aprendizagens, alterações anatômicas e fisiológicas, traumas e experiências vão formando o comportamento sexual. É preciso perceber que sexualidade e reprodução são eventos separados. E nesse momento da vida, muitas vezes, as pessoas têm mais tempo para usufruir de uma sexualidade mais prazerosa.

O aparecimento de disfunções sexuais em tal idade ocorre muito mais por questões de saúde do que pela própria idade. Mas nem mesmo a idade ou a maioria das doenças implicam no fim do sexo. É claro que a doença suga a energia para se defender de uma ameaça física, diminuindo a atenção que poderiam ser voltada para as sensações sexuais. É preciso ter em mente que o desejo sexual, motor da sexualidade, está presente em toda a vida, ainda que em menor intensidade ou frequência.

Dra. Ana Paula Veiga - Psicóloga e Sexóloga

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